Tenho lido e ouvido que “ser simples é o charme deste século”. Ouvi isto pela primeira vez em uma palestra proferida por Luiza Trajano do Magazine Luiza, depois de Carlos de Campos num artigo largamente veiculado pela internet e ainda a bem pouco tempo num encontro de gastrônomos.
Mas o que é ser simples?
“Ser simples não é ser simplório”
Simples é buscar as coisas que aquecem nosso coração como o bom dia do porteiro, o café com um amigo numa padaria de bairro, o cheiro do pãozinho quentinho que sai de hora em hora, a reunião que inicia com todos os participantes previstos, o trabalho concluído com esmero, o agradecimento ao colega pela cooperação numa tarefa difícil, a liberdade de implementar novas ideias em velhos procedimentos, o ambiente harmônico no departamento, a possibilidade de perguntar, o material organizado, a devolução de um livro emprestado, o atingimento de um objetivo, o foco em ser e não em ter, surpreender-se e surpreender o outro, conversar no horário do jantar.
A expressão “keep it simple”, utilizada por Tom Peters, e as expressões como “agressivamente simples” e “sofisticadamente simples”, vem sendo pauta e temas de workshops, palestras e seminários nos mais famosos e renomados congressos mundiais.
Por que a busca do simples ganhou tanta notoriedade?
Uma crença que habita meu pensamento a este respeito é que o mundo tornou-se complexo demais, uma dependência exacerbada por outras pessoas, serviços e coisas.
Nos tornamos dependentes para a maior parte de atividades que antes éramos independentes. Atividades como consertar utensílios domésticos, limpar nossas casas, cuidar de nossos filhos, passear com nossos animais, comprar nossos jornais e revistas, cozinhar nossa própria comida, lavar nosso próprio carro, etc.
Sentimo-nos especialistas para falar de política, economia, filosofia, questões da humanidade, assuntos subjetivos e complexos e nenhum pouco à vontade para falar do cotidiano, das inúmeras atividades que realizamos para nossa subsistência e convivência e principalmente fazê-las. Há um staff especializado para cada pequeno serviço.
A complexidade nos distancia do contato consigo mesmo, nos distancia de nossa própria essência, nos descaracteriza e nos torna dependentes de tudo e todos e ocasiona uma falsa sensação de intelectualidade e poder.
Simplificar permite entrar em contato com o que está próximo e, principalmente com o tangível.
Depende somente de nós mesmos, de nossas vivencias e experiências e não de outros ou das experiências deles.
Vivemos um momento passado em que estar consigo mesmo pareceu pouco sofisticado e, assim, o complexo ganhou seu espaço. As buscas por equilíbrio, harmonia, qualidade de vida e espiritualidade podem nos aproximar de nós mesmos e isto é o que tem nos remetido ao simples.
É tempo, mais que urgente de retomar o simples e viver o momento de notoriedade em nossas próprias vidas.
Por Luiza Ghisi
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